Da BNCC à personalização da Educação

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A temática do currículo se apresenta com forte ênfase e impacta consideravelmente a organização da escola contemporânea. Diversos processos e atividades na escola são, agora, ressignificados na busca de responderem qual a sua efetividade ou o quanto contribuem na conquista dessa caminhada, chamada currículo, ou “pista de corrida”.

A BNCC modificou a dinâmica da legislação educacional brasileira, ao apresentar, para além de uma lei de base (LDB 9394/96) e de normas que a regulamentassem - o que se faz por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais promulgadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) – apresentando-se em seu ápice normativo como uma referência nacional curricular, a partir da qual se orientam as organizações das propostas formativas dos estudantes. Muitos outros países igualmente escolheram essa lógica de organizar seus marcos educativos por meio de currículos nacionais, como a Austrália, o Canadá e os Estados Unidos, que inclusive inspiraram a construção do referencial brasileiro. Seus fundamentos estão em buscar contribuir com as aprendizagens essenciais, nisso ancorados na formação integral e num currículo por competências.

Compreender esses aspectos amplos da legislação curricular é reconhecer, primeiro, a educação como promotora de humanidade, ao se considerar que nela estão declarados os aspectos daquilo que se espera dos sujeitos que se aplicam às aprendizagens, de evidências civilizatórias e emancipadoras, da ética e da cooperação entre as pessoas, além, por óbvio, da apropriação de saberes desenvolvidos pelos que vieram antes de nós, e a sua mobilização em habilidades.

Como diz Hanna Arendt em seu texto sobre ‘A crise da educação (1961)’, ao tratar a educação como uma das ‘atividades mais elementares e mais necessárias da sociedade humana, (...) que se renova sem cessar pelo nascimento, pela chegada de novos seres humanos’, sendo essa criança ‘nova num mundo que lhe é estranho’ e que ‘está em devir’, uma vez que não atingiu a maturidade. Isso se nos interpõe aos aspectos relacionados tanto ‘ao mundo’ quanto à ‘própria vida’. Essa é dupla a responsabilidade da educação: “pela vida e pelo desenvolvimento da criança, mas também pela continuidade do mundo”.

E o currículo busca fazer isso, ao selecionar aspectos da formação que dialogem tanto com os indivíduos quanto com a humanidade. Resolver essa questão da educação é organizar experiências que personalizem o reconhecimento único de cada ser humano, contribuindo com seu desenvolvimento e aprendizagem de maneira ótima, ao mesmo tempo que o conecte a refletir sobre os desafios sustentáveis do planeta, de viabilizar a ação colaborativa, de pontos de conexão dentro das multiplicidades e singularidades, globalidades e regionalidades, o cá dentro e o lá fora, o hoje e o tempo futuro. Os valores serão vitais a essa liga entre o eu o outro, concebendo-se o nós.

De maneira prática, o currículo passa a endereçar o perfil de sujeito que se espera ao mundo. E, para isso, há referências mínimas a todos, como referência nacional e há currículos estaduais ou municipais que acrescentam suas culturas em contextos. Há ainda os currículos escolares, expressão mais aproximada do coletivo de vivência local, e há o currículo que se trilhou na formação, nomeadamente de currículo do sujeito.

E é aqui que se encontra o termo “personalização”, na busca de se reconhecer o irrepetível sujeito que toca o mundo com sua contemplação e com sua ação.

Lilian NevesComentário