ENSINO HÍBRIDO – propósito, fluxo e funcionamento

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Se pensarmos em nossas próprias experiências escolares e acadêmicas, podemos lembrar de momentos nos quais nossos professores lançavam mão de filmes para discussões subjetivas, ou a pesquisa que em determinado momento parou de ser realizada apenas nas bibliotecas e começou a acontecer no Google. As informações bem ali a uns cliques de distância.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O hibridismo reside em mesclar as práticas presenciais com as remotas, os humanos com os não-humanos (ou artefatos tecnológicos), o real com o virtual. Essa discussão vem ganhando palco recentemente devido à pandemia, mas, como podemos ver, a pauta a respeito da necessidade e o potencial de combinar a prática presencial com os aportes tecnológicos não é nova.

Os filmes, o rádio, máquinas de ensino, computadores, a mudança na maneira de pesquisar que saltou dos livros para as plataformas de buscas online, a discussão sobre o ensino à distância e o fato de que, hoje, milhares de pessoas concluem suas graduações, pós-graduações e cursos sem pisar na instituição, são sinais bem claros de que a tecnologia não anda muito longe do cotidiano educacional.

Atualmente o ensino híbrido vem tomando um espaço de destaque nas agendas dos governos e das escolas porque, em um contexto de pandemia causada pelo Covid-19, a aproximação remota foi a abordagem que se mostrou mais adequada de fazer com que os processos de ensino-aprendizagem continuassem acontecendo de forma minimamente viável ou satisfatória.

É um movimento que necessita de um posicionamento não apenas das instituições de ensino, mas também dos profissionais da educação, de seus parceiros, das famílias e dos próprios discentes. Talvez aí more o grande potencial de mesclar educação e tecnologia, proporcionar uma aprendizagem ativa com autonomia crescente e com interação.

Em meio a muita confusão e construção conceitual, consultores e profissionais da tecnologia digital se incumbem de tentar orientar as escolas. A sensação é que ‘tecnologia educacional’ e ‘metodologia ativa com uso das TICs’ migraram para serem chamados de ensino híbrido. Esse se parece mesmo um estágio inaugural do debate, mas já há muitos interessados em assumir esse lugar de referência do discurso, e se multiplicam as lives e cursos sobre a temática.

Elegemos, aqui, a metodologia do círculo dourado de Simon Sinek, para buscar responder a esse trio de perguntas: why, how e what. Aqui, essa cadência de importância da análise, recebe o nome de propósito, fluxo e funcionamento do ensino híbrido.

Identificar o propósito de se aportar tecnologia à educação, auxilia no reconhecimento daquilo que é central ao debate, que faz todo o restante seguir ao alvo comum, trazendo mobilização, engajamento, investimento. Por fluxo, de como esse propósito se viabilizaria numa educação híbrida, desdobramos a pergunta em “qual aprendizagem” o concebemos? O professor será o responsável por toda a organização de todas as situações de aprendizagem curricular, ou o professor irá organizar um fluxo de autonomia crescente?

Por funcionamento, e aqui se vão os detalhes do como fazer isso acontecer, estão igualmente desdobramentos das respostas às perguntas anteriores, sobre como se faria o aporte de tecnologia a um ou outro fluxo.

Se a direção for ao instrucionismo, a lista de aquisições será: estrutura básica tecnológica, como roteadores, internet, computadores e telas, projetores, dispositivos móveis e armários de recarregamento e logística. Aquisição de vários aplicativos e softwares de metodologias variadas, integração de soluções e muita ação de problematização, contextualização com pitadas de “motivação” – ainda que o máximo que um ambiente externo consiga promover seja a estimulação. Professores sendo capacitados a tanta ação inovadora em métodos “ativos” e digitais.

Já se a direção for ao ‘aprender a aprender’, será necessário um fio integrador das práticas, que pode ser tecnológico, em que o que acontece em sala ou em casa, no remoto ou no presencial, no momento individual ou em atividades coletivas, seja uma prática só, coerente, alinhada em propósitos e processos.

O estudante gradativamente precisará reconhecer e gerenciar seu próprio currículo, com orientação do professor. Há um planejamento, compartilhado, que não se trata meramente da distribuição dos conteúdos e tarefas propostas pelo professor, mas ao desenvolvimento de um plano de estudos, em que participam dessa modelagem tanto o educador quanto o estudante, dialogicamente, e com personalização.

Nesse sentido, o hibridismo não se dá apenas pela utilização de ferramentas tecnológicas, mas pela ressignificação dos processos de aprendizagem pautados em um propósito de crescimento.

E não, hibridismo à educação não é novidade, não é estático, não se faz a partir da simples adoção de dispositivos tecnológicos, não trará resposta imediata às defasadas aprendizagens. Tudo isso dependerá de se fazer a escolha - e aqui há um juízo de valor – que responde efetivamente às demandas de futuro, das competências requeridas ao século XXI, dos sujeitos cidadãos que assumirão o lugar de resolver as questões futuras da humanidade, que é a escolha pelo crescente de consciência e autonomia, ou segundo fluxo, aqui apresentado.

Nisso, entende-se que afirmar a importância do ensino híbrido somente se extrai a relevância do acesso aos saberes disponíveis via TICs, como algo comum. Toda a ênfase do restante desse aporte de tecnologia caracterizará se a escola é tecnológica-instrutivista ou se efetivamente contribui para o significativo aprender a aprender. Talvez seja hora de pararmos as respostas rápidas e ‘mágicas’ e nos dedicarmos a buscar essa educação que todos declaramos em nossos discursos, embora ainda se mostre bem distante da maioria das práticas. O bom é sabermos que, para isso, é possível contarmos com a tecnologia!